terça-feira, 24 de setembro de 2013

A FORÇA DE UM POEMA!!!




Homenagem aos 100 anos da morte do poeta Vinícius de Morais:  
Será este poema o mais bonito e sensível em relação ao nosso País?

PÁTRIA MINHA

Histórico: Em 1968, o poeta Vinícius de Morais estava em Portugal para várias apresentações - fazia grande sucesso. 
De repente, o mundo desabou, chegou a noticia da promulgação do Ato Institucional    nº 05, pelo governo Costa e Silva.   

Vinícius, mesmo ameaçado, resolveu voltar ao País. Mas, em Portugal, nova ameaça: A juventude salazarista de direita foi à porta do teatro para provocá-lo.

Ele saiu do teatro e enfrentou a multidão; começou a ser vaiado, mas se manteve tranquilo; as vaias diminuíram, ele pediu licença e começou a declamar o poema “Pátria Minha”.

Os salazaristas terminaram aplaudindo o poeta de pé, e tiraram suas jaquetas para servir de tapete para ele passar: Foi a vitória da poesia sobre a barbárie!

Em nome da poesia faço uma solicitação: Examinem este texto sobre o poeta da paixão. Cem anos é muito pouco em se tratando de emoção.            
 O exílio foi sofrimento, mas, igualmente, inspiração.  
Pátria Minha é um poema que abala o coração.
Pátria Minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auri-verde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha,
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu, semente que nasci do vento,
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu, elemento
De ligação entre a ação o pensamento,
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te, no entanto, em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra,
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu,
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: Aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes,
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha,
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha,
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...”
 




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