Este texto foi publicado em 1916, no jornal “A IMPRENSA”, do Rio de Janeiro, de autoria de Coelho Cavalcanti e João Barafunda.
Abre o livro do magistrado Alfredo Pessoa de Lima, com o titulo UM JUIZ NO REINO DO MALAIO.
Está sendo republicado hoje, por iniciativa de Givaldo Soares da Silva, em homenagem à volta de Delúbio Soares ao PT, e ao novo Conselho de Ética do senado.
Veja o texto:
"A CANALHA
A canalha não é, entre nós, no Brasil, essa gente de pés descalços que arrasta nas ruas a sua vida miserável e anônima
Não é essa turba faminta e resignada na sua desgraça a pedir emprego de porta em porta, a matar a sede nos chafarizes, a dormir nos bancos de praça pública.
Não é a vagabundagem forçada, sonâmbulos da morte, que não tem um lar que os receba, nem um braço que os ampare, nem um carinho que os console.
Não é este triste cordão de deserdados, filhos de nossa terra e filhos de terra estranha, que por subúrbios tropeçam na fome de dias inteiros, golfando sangue.
Não é o desgraçado que escamoteia um níquel ou escala um galinheiro para haver pão e o caldo suavizador nos últimos instantes do ente amado que escabuja no chão nu de um cubículo.
Nesta Pátria que se desfaz em lama e nesta gente que se desfaz em pus, a canalha tem o seu trono.
Reina em sonho absoluto.
É a nobreza. É o poder. São os maiores da Nação.
Não é o soldado raso; é o Marechal do Exército.
Não é o Marinheiro; é o Almirante.
Não é o guarda cível, nem o secreta, nem o capanga; é o Chefe de Polícia.
Não é o porteiro do Senado; é o Senador da República.
Não tem casacos rotos, nem calças de remendos; tem bordados, tem luvas e brilhantes a botoeira.
Não é o servente que furta e vende uma caneta;
é o Ministro que furta e vende as armas da Nação
Não é a gentalha corrida a coice de arma; é a joldra afortunada que pode, que manda, que julga, que absolve, que mata, que tem nas mãos os dinheiros do Tesouro e nos pés a honra do Brasil".
Givaldo Soares
(Cidadão Brasileiro e Cirurgião Dentista)
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