Saudades do velho Castelão!
O poema de “Concreto Armado” vai, lentamente, desaparecendo da paisagem. Na minha memória volto a 1972, data de sua inauguração.
Recém casado e morando no conjunto Nova Dimensão, me sentia um vizinho, um amigo, um irmão. Acompanhei de perto a construção do estádio Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Vivi muitas alegrias, muitas tristezas. Tudo aquilo que o futebol proporciona a todos os torcedores. Vi muitas vezes Alberi destroçar e humilhar o América. Mas vi também, Hélcio Jacaré fazer gols memoráveis no ABC.
Minha reflexão volta a 1955 quando cheguei a Natal e fui morar na pensão de Dona Didi, na Rua Vigário Bartolomeu, um verdadeiro ninho de abecedistas.
A chegada foi em plena Sexta-Feira da Paixão e, no domingo seguinte, convidado pelos novos companheiros fui ao Juvenal Lamartine assistir ABC x América. Me apaixonei pelo time rubro, contrariando os meus novos companheiros.
Uma lembrança que não sai da minha memória:
Convidei meu pai para assistir a inauguração do novo estádio com o jogo ABC x América. Meu pai nunca tinha assistido a uma partida de futebol, provavelmente foi só para me agradar.
Porém, quando terminou o primeiro tempo, procurei saber sua impressão, ele falou: “Estes cabras de preto e branco são uns pestes”. Esta expressão simples de meu pai dá a dimensão da grandeza do futebol que o ABC jogou naquela noite.
Hoje, com tristeza vejo a demolição do velho estádio, e me preocupo com os sentimentos dos seus construtores; lembro-me de Adoniram Barbosa com sua “Saudosa Maloca”, cada tijolo que caía, doía no coração!
E agora que o poema deixa de ser “concreto” para ser “eterno” é necessário uma louvação e um reconhecimento ao arquiteto Moacir Gomes, autor do projeto arquitetônico e aos engenheiros calculistas Manoel e José Pereira que colocaram suas inteligências a serviço do futebol do Rio Grande do Norte.
E esperar que ocorra com Castelão o mesmo que ocorreu com a casa de Manuel Bandeira, no poema “A última canção do beco”.
“Vão demolir esta casa.
Mas meu quarto vai ficar,
Não como forma imperfeita
Neste mundo de aparências:
Vai ficar na eternidade,
Com seus livros, com seus quadros,
Intacto, suspenso no ar”.
Givaldo Soares
(Cidadão Brasileiro e Cirurgião Dentista)
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