sexta-feira, 6 de julho de 2012

CARTA ABERTA AO FUTURO PREFEITO DE LAGOA DOS GATOS




O paraibano José Américo de Almeida dizia que:

“Voltar é uma forma de renascer, e ninguém se perde no caminho da volta.”

Voltar à Lagoa dos Gatos é para mim uma profunda emoção! Deixei essa querida terra muito jovem, o mundo era muito tranquilo pelos idos de 1955, e volto já velho para mostrar aos meus filhos e netos minha querida terra.

Sempre que chego à Lagoa dos Gatos sou tomado de duas emoções antagônicas:

- Uma de alegria em rever o solo onde nasci e caminhei, onde convivi com meus pais, irmãos e amigos, muitos dos quais já desaparecidos. Alegria pela infância e a escola, comandada por Dona Malila e Carminha Barreto. No rádio de sua residência, no dia 16 de Junho de 1950, ouvi a derrota do Brasil para o Uruguai. Foi minha 1ª decepção com o futebol.

- A tristeza vem em função de um episódio comum em todo o Brasil, mas que não gostaria que ocorresse em Lagoa dos Gatos. Refiro-me à questão florestal, onde um grande e sistemático desmatamento fere a sensibilidade ecológica de qualquer um.

No passado, sentado na calçada da igreja, podia ver no topo da Serra do Porão, uma linda mata, onde meu pai Antônio Joaquim da Silva caçava paca, viado e porco do mato.

Olhar a serra hoje é uma profunda decepção - tudo foi destruído. Visitar o engenho Periperi é doloroso; o rio com o mesmo nome tem um fio d’água, causado pelo desmatamento.

Esta carta aberta tem uma finalidade de solicitar em meu nome, dos meus filhos e netos, um projeto e uma política de reflorestamento para o município, recuperando sua condição de produtor de frutas e verduras, para todo o sul de Pernambuco.

Para finalizar, reproduzo as preocupações nos preceitos ecológicos do Padre Cícero Romão Batista, escrito no seu decálogo, há mais de 100 anos.

1) Não derrube o mato nem mesmo um só pé de pau;

2) Não toque fogo no roçado nem na caatinga;

3) Não cace mais e deixe os bichos viverem;

4) Não crie o boi nem o bode soltos; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer;

5) Não plante em serra acima nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não arraste e não se perca a sua riqueza;

6) Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água da chuva;

7) Represe os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta;

8) Plante cada dia ao menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra planta qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só;

9) Aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca;

10) Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo terá o que comer. Mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.

Espero que o espírito do Rio+20 chegue à minha querida cidade Lagoa dos Gatos!!!

Givaldo Soares


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