O paraibano José Américo de
Almeida dizia que:
“Voltar
é uma forma de renascer, e ninguém se perde no caminho da volta.”
Voltar à Lagoa dos Gatos é
para mim uma profunda emoção! Deixei essa querida terra muito jovem, o mundo
era muito tranquilo pelos idos de 1955, e volto já velho para mostrar aos meus
filhos e netos minha querida terra.
Sempre que chego à Lagoa
dos Gatos sou tomado de duas emoções antagônicas:
- Uma de alegria em rever o
solo onde nasci e caminhei, onde convivi com meus pais, irmãos e amigos, muitos
dos quais já desaparecidos. Alegria pela infância e a escola, comandada por Dona
Malila e Carminha Barreto. No rádio de sua residência, no dia 16 de Junho de
1950, ouvi a derrota do Brasil para o Uruguai. Foi minha 1ª decepção com o
futebol.
- A tristeza vem em função de
um episódio comum em todo o Brasil, mas que não gostaria que ocorresse em Lagoa
dos Gatos. Refiro-me à questão florestal, onde um grande e sistemático
desmatamento fere a sensibilidade ecológica de qualquer um.
No passado, sentado na
calçada da igreja, podia ver no topo da Serra do Porão, uma linda mata, onde meu
pai Antônio Joaquim da Silva caçava paca, viado e porco do mato.
Olhar a serra hoje é uma
profunda decepção - tudo foi destruído. Visitar o engenho Periperi é doloroso;
o rio com o mesmo nome tem um fio d’água, causado pelo desmatamento.
Esta carta aberta tem uma
finalidade de solicitar em meu nome, dos meus filhos e netos, um projeto e uma
política de reflorestamento para o município, recuperando sua condição de
produtor de frutas e verduras, para todo o sul de Pernambuco.
Para finalizar, reproduzo
as preocupações nos preceitos ecológicos do Padre Cícero Romão Batista, escrito
no seu decálogo, há mais de 100 anos.
1) Não derrube o mato nem
mesmo um só pé de pau;
2) Não toque fogo no roçado
nem na caatinga;
3) Não cace mais e deixe os
bichos viverem;
4) Não crie o boi nem o
bode soltos; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer;
5) Não plante em serra
acima nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra
para que a água não arraste e não se perca a sua riqueza;
6) Faça uma cisterna no oitão
de sua casa para guardar água da chuva;
7) Represe os riachos de
cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta;
8) Plante cada dia ao menos
um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra planta qualquer, até que o sertão
todo seja uma mata só;
9) Aprenda a tirar proveito
das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem
ajudar a conviver com a seca;
10) Se o sertanejo obedecer
a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo
terá o que comer. Mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai
virar um deserto só.
Espero que o espírito do Rio+20
chegue à minha querida cidade Lagoa dos Gatos!!!
Givaldo Soares
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