segunda-feira, 11 de julho de 2011

INTENTONA COMUNISTA NO RN






Eimar Lopes de Oliveira (*)


A Intentona Comunista ou Levante ou ainda Insurreição, foi um movimento revolucionário que aconteceu no Brasil no ano de 1935.

Tinha como objetivo principal derrubar o governo de Getúlio Vargas, e instalar o regime Comunista no Brasil.

É importante ressaltar que, apesar de ter ocorrido no ano de 1935, muitos fatos que o antecederam, foram determinantes para o seu acontecimento.

A década de 1920 foi caracterizada por uma grande insatisfação popular com a situação política e econômica do País.


Havia uma grande recessão com um alto índice de desemprego.
Além disso, tomava corpo no seio das Forças Armadas uma grande desarmonia entre seus membros, principalmente nas patentes mais baixas, provocada pelos baixos soldos. Essa desarmonia culminou com um movimento que ficou conhecido como o Tenentismo.

Na conjuntura Internacional, começavam a surgir os Regimes Totalitários (Portugal, Espanha etc.), e acontecia também uma grande crise econômica ocidental no período entre-guerras, tendo como desfecho principal, a falência da bolsa de Nova Iorque, em 1929.

Nacionalmente ocorreu a quebra da política do Café-com-leite e o assassinato de João Pessoa.

No Rio Grande do Norte vários eventos convergiram para o que estava para acontecer.

- O Estado aderiu à Revolução de 1930, juntando-se ao RS, MG e PB;

- A derrota e o fim das Oligarquias Albuquerque Maranhão e Bezerra de Medeiros;

- O período interventorial, inclusive com extrema instabilidade política (o RN teve no período de 1930 a 1934, 5 Interventores);

- A campanha eleitoral de 1934 extremamente violenta, havendo muitos assassinatos por todo Estado, inclusive o do filho do Governador deposto, Juvenal Lamartine.

Após a campanha, houve a dissolução de toda a guarda civil que era ligada ao interventor que perdera a eleição. O interventor era Mário Câmara e o Novo Governador eleito era Rafael Fernandes Gurjão.

Natal era uma cidade com aproximadamente 40 mil habitantes, cujo movimento girava basicamente em torno do comércio, concentrado na Ribeira.

Aproximadamente 80% da população era analfabeta. A segurança era feita pela Polícia Militar, pelo 21º BC (Batalhão de Caçadores do Exército Brasileiro) e pela Guarda Civil.

No dia 23 de Novembro de 1935, uma manhã de sábado, tudo corria normalmente. No 21º BC, parte da tropa foi dispensada no início da tarde, ficando no quartel apenas o Oficial de Dia, o Tenente Abel Cabral e o Tenente João Cícero de Sousa, da banda de música, além do restante da guarda normal do quartel.

À noite o Governador Rafael Fernandes jantou com amigos, e logo depois se dirigiu ao Teatro Carlos Gomes, hoje Alberto Maranhão, acompanhado do seu secretário, Aldo Fernandes, onde acontecia uma solenidade de formatura.

Por volta das 19h30min, três homens fortemente armados, o Sargento Músico Quintino Clementino de Barros, o Cabo Giocondo Alves Dias e o Soldado Raimundo Francisco de Lima, prenderam o Oficial de Dia e o restante da guarda, e conquistaram, sem resistência, o quartel.

Logo depois, um grupo ocupou pontos estratégicos da Cidade, o Palácio do Governo, a residência do Governador e a central de usina elétrica. Foi também desligado o farol que orientava os navios, no forte.

O Governador que se encontrava no teatro, escondeu-se na casa de um amigo, lá dormiu e no dia seguinte recebeu asilo do Cônsul da Itália, onde permaneceu até o fim do movimento.

O Prefeito de Natal, Gentil Ferreira e seus assessores asilaram-se na casa de Amador Lammas que a transformou em Consulado.

O Chefe de Polícia João Medeiros Filho e o Delegado Auxiliar Major Genésio Lopes, após percorrerem vários pontos da Cidade, chegaram ao 21º BC e lá foram presos.

O Quartel da PM localizado no centro da Cidade, onde hoje funciona a Casa do Estudante sofreu um violento ataque. Travou-se um combate que durou até as 14 horas do dia seguinte.

A maioria dos resistentes fugiu, e os que ficaram foram presos. Mesmo polêmica, a História relata a morte do Soldado Luiz Gonzaga.

Aconteceu também a invasão da Cadeia Pública, hoje Centro de Turismo, e 68 presos foram soltos. Na tarde do dia 24 de Novembro, a Cidade estava toda em poder dos revoltosos.

Nessa mesma tarde, foi constituída a Junta Governativa (Comitê Popular Revolucionário), composto por:

Quintino Clementino de Barros, 36 anos, Secretário de Defesa;

Lauro Lago, 36 anos, Secretário do Interior e Justiça;

José Macêdo, 33 anos, Secretário de Finanças;

João Galvão, 33 anos, Secretário de Viação;

José Praxedes, 35 anos, Secretário de Aprovisionamento.

No dia 25, o primeiro decreto foi assinado pela Junta Governativa, dissolvendo a Assembleia Legislativa, e destituindo o Governador Rafael Fernandes.

Outras medidas merecem destaque, como: A redução do preço dos bondes de 50 para 20 Réis; reabertura do comércio e dos bancos; vários arrombamentos aos cofres do Banco do Brasil e da Recebedoria de Vendas etc..

No dia 27, seguindo orientação de Recife, os presos pelo movimento foram entregues ao navio Mexicano ancorado no porto de Natal, e junto com eles todas as armas. Nesse mesmo dia 27 chegava a informação de que o Movimento havia fracassado em nível nacional.

Sem prisioneiros, sem armas e com as informações do fracasso, o 21º BC recebeu ordens para debandar. Praticamente todos os revoltosos foram presos, apenas Giocondo e José Praxedes fugiram.

É importante ressaltar que, apesar da concentração e centralização do levante ter sido na Capital do Estado, o Interior foi ocupado e também resistiu.

Dos 41 Municípios existentes na época, 17 foram tomados pelos revoltosos.

Natal/RN, 05 de Junho de 2011

(*) - Atual Presidente do Conselho Regional de Odontologia e graduado em História pela UFRN.


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